sábado, 30 de abril de 2011


Harmonia
A ressonância de um coração batendo em prol do outro. O amor sendo entendido nas suas facetas mais sublimes e ordinárias. A sensação transcendente de amar aquele ser antes de tê-lo visto pela primeira vez. A razão de encontrar o Deus em todas as coisas. O silêncio do debaixo d’água. A poesia discreta da construção de uma teia de aranha e a canção suave de um único rouxinol adorando a chuva. O bailar sereno das nuvens que entrelaçam sombra e luz; o imperceptível, mas real espaço entre sombra e luz. A sutil luminosidade dos vaga-lumes em contraste com as noites de completa escuridão. O Ser humano gerando outro ser humano no seu ventre, nas suas vísceras e no seu coração. O parir desenfreado, doloroso e admirável da criação.


A infância de cirandas e pureza, árdua e sem destreza dos grandes pequeninos. O adulto firme e opaco, como árvores do sertão, por vezes fazendo travessuras, pinturas e doçuras, por outras, mistério e contemplação. O ancião costurando as suas veias furadas e o seu coração retalhado, cozendo um bordado da sua existência e preparando-se para voltar à gestação. As vozes das cantoras graves e grávidas destoando o ar. Os corpos das intérpretes intrépidas nos palcos frios de público quente. A lágrima adocicada do palhaço contente. A melodia primordial que dá vida aos outros cantos e que só o compositor tem ouvidos para ouvi-la. O barro bruto na matéria e a obra prima etérea do escultor desabrido. A passagem do atemporal e o invisível que há entre as coisas. A pirâmide da unidade e a completa doação da amizade. Os sonhos puros dos deuses e as suas terríveis premonições, mas que a beleza dos seus sentimentos ainda é capaz de sonhar; e que por vezes, são colocados nos corações dos homens. As harpas e tambores dos anjos na mesma canção de ninar e embalar. O incandescente nascer dos raios e o grito trêmulo dos trovões na mesma tempestade. O amarelo alaranjado do sol que nossos olhos não podem ver, mas que a alma pode sentir. E os tons de verdes da floresta mãe, que jorra oxigênio para todos prosseguir. O indígena e o oriental nos ensinando o milagre primordial. Tudo aqui, em perfeita sincronia. Em sublime e pungente harmonia.

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